terça-feira, 2 de novembro de 2010

dia de finados


Dia de finados parece que foi estabelecido pela igreja católica para que se rezassem pelas almas daqueles que não tinham quem rezasse por eles. Eu, sem saber disso, rezei hoje por essas pessoas, por todos os escravos que foram mortos e enterrados em valas rasas sem nenhum ritual sobre os quais nossa cidade se ergue. Nos que, hoje, nem podem enterrar seus mortos, pois os corpos "desapareceram". Rezei também por meus parentes que já se foram, claro. Não que eu seja católica, mas gosto dessa parte “das almas” e fui acender umas velas na Igreja de São Crispim e São Crispiniano, na rua Carlos Sampaio, no Bairro de Fátima, que aliás, só hoje vim a saber quem são. Sempre me chamou atenção nessa igreja uma enorme ala do lado de fora, na parte esquerda, dedicada às almas, com pequenas portinhas com retratos de entes queridos que se foram, com pequenas lâmpadas acesas. São Crispim e São Crispiniano eram sapateiros, poderiam ser os protetores dos crafters. A história deles lembra a dos contos de fada, pois reza a lenda que, ao fugirem das perseguições aos cristãos, foram abrigados por uma mulher pobre cujo filho não tinha um sapato. Fizeram um sapato para o rapaz e quando acordaram, não havia mais ninguém na casa e o sapato, cheio de moedas de ouro. Será que vem daí a coisa de colocar o sapato na janela no Natal?

Chegando em casa fiz um bolo cheio de frutas cristalizadas, ameixa seca e damasco. Depois me veio a lembrança de que era um tipo de bolo, “bolo inglês”, que minha avó materna, que já se foi, gostava de fazer. Pesquisando aqui sobre o dia de Finados, para saber se era feriado em outros países, vi que no México eles tem esse costume de fazer as comidas que agradavam aos mortos.

Este post já está ficando grande demais, mas o assunto dá panos para mangas. O que eu tinha pensado em escrever originalmente era sobre as velas. Porque uma vez eu li o Rubem Alves falando que achava estranho este nosso costume de, nos aniversários, cantar o parabéns e assoprar a vela no final. Que deveríamos acender a vela para celebrar a vida e não apagá-la. E eu fiquei vendo todas aquelas velas ali acesas para os mortos, a chama de uma vela sendo acesa na outra (mas tem que pedir licença antes, me ensinaram) e achei de uma poesia incrível. Aliás, essa minha avó, não cantava “muitos anos de vida” no parabéns e sim “com a graça de deus”. Será um costume dos antigos? Não, Rubem, quando se sopra a vela, a chama não se apaga: se expande pelo cosmos na velocidade da luz. Uma nova idade se inicia.

Ah... e outra coisa. Aprendi hoje que quando se entra pela primeira vez numa igreja que você nunca foi você pode fazer até 5 pedidos.




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